Não tente convencer um torcedor do Grêmio de que foi sobre o Flamengo a
vitória de 4 a 2 na tarde deste domingo, no Olímpico. Para cada um dos
tricolores existentes no universo, foi um triunfo contra Ronaldinho Gaúcho. Foi
sobre ele, o maior dos desafetos azuis, a virada deste 30 de outubro. Vaiado
como talvez jamais um jogador tenha sido em Porto Alegre, xingado como talvez
jamais um jogador tenha sido no futebol brasileiro, o camisa 10 rubro-negro foi
o núcleo de um jogo histórico. Ronaldinho, pela primeira vez, foi ao Olímpico
como adversário. E perdeu. Jogou bem no primeiro tempo, sumiu no segundo. E
perdeu.
O Flamengo passeou na largada do jogo. Fez 2 a 0, com Thiago Neves sobrando:
passe para o primeiro, de Deivid, e autoria do segundo. Mas aí surgiu André
Lima. Ainda no primeiro tempo, o Grêmio empatou com o atacante, que também
marcaria o segundo, na etapa final. Douglas ampliou. Miralles, com um golaço,
fechou.
Com o resultado, o time carioca se manteve na zona de classificação para a
Libertadores, no quinto lugar, com 52 pontos. O Grêmio, com 46, é o nono. O
Tricolor volta a campo no sábado, em Sete Lagoas, contra o Atlético-MG. Um dia
depois, o Flamengo recebe o Cruzeiro.
Do silêncio absoluto, fez-se o som. Eram 20 minutos do primeiro tempo em um
Olímpico que chacoalhava a cada toque de Ronaldinho Gaúcho na bola. Gilberto
Silva errou. Recuou fraco. Thomás acionou Deivid, que logo encontrou o camisa 10
dentro da área. Estava desenhado o gol. Ronaldinho fintou Fernando e mirou
Victor. Por um segundo, não se ouviu um suspiro no Olímpico. Nada. Nem o barulho
dos cílios em um piscar de olhos. Absolutamente nada. E aí fez-se o som. Quando
Gilberto Silva entrou de carrinho em Ronaldinho e mandou a bola a escanteio, os
gremistas se uniram em um urro coletivo. Não, não foi gol de Ronaldinho.
Nada poderia ser pior para uma torcida enraivecida, magoada, do que ver seu
maior desafeto marcar no Olímpico. Não aconteceu no primeiro tempo, mas sobraram
riscos. Antes de Gilberto Silva salvar a jogada que ele mesmo estragou,
Ronaldinho teve cobrança de falta. Mandou no travessão, com desvio de Victor. O
temor no estádio se tornou palpável, quase sólido. Porque o camisa 10, chamado
de pilantra, xingado de mercenário, jogou com a naturalidade com que
respira.
Ronaldinho fez estragos. Mário Fernandes e Saimon raramente encontraram o
meia-atacante. Ele distribuiu passes, circulou, incomodou. Com um passe, deixou
Deivid na cara do gol. O desvio foi para fora. Com uma passada, deixou Saimon a
ver navios. Tocou para Junior Cesar, que mandou para Thomás, que emendou o
chute. Victor espalmou.
O Flamengo venceu o primeiro tempo. E o curioso é que Ronaldinho, nos lances
do gol, foi coadjuvante. Neles, quem chamou o jogo foi Thiago Neves. Primeiro,
ao dar um tapa na bola, perfeito para Deivid fazer 1 a 0. Depois, ao receber de
Léo Moura e mandar o chute de direita, que ainda desviou em Fernando, para
marcar o segundo.
O Grêmio, mal na defesa, teve contrapartida ofensiva. Douglas teve dois bons
chutes, ambos espalmados por Felipe, um deles à queima-roupa, com uma agilidade
de cair o queixo. Mas a ressalva para um primeiro tempo preocupante veio com
André Lima. Quando o período se encaminhava para o final, o atacante recebeu de
Mário Fernandes e girou para o gol. O Tricolor estava vivo.
SEGUNDO TEMPO:
Veio o segundo tempo, e André Lima fez um gol que Ronaldinho Gaúcho faria.
Frente a frente com Renato Abreu, o atacante tocou a bola entre os calcanhares
do marcador. Passou reto por ele. E aí já emendou o chute, colocado, no
cantinho. Golaço.
O gol sintetizou uma mudança de panorama na partida.
Com Adílson no lugar de Saimon e Gilberto Silva recuado para a zaga, o Grêmio
melhorou. O Flamengo decaiu. Ronaldinho ficou mais discreto. A defesa carioca
passou a ser mais acossada do que a gaúcha.
Foi então que caiu a casa para Ronaldinho. Escudero já poderia ter virado.
Perdeu o gol duas vezes no mesmo lance. Douglas, em chute preciso, virou com um
golaço. O Olímpico entrou em surto. Era o sentimento de vingança que movimentava
uma torcida que fazia o estádio, sem exageros, balançar.
E viria mais. Celso Roth chamou Miralles, o argentino tão querido pela
torcida e tão ignorado por ele. E sabe quem fez o quarto? Ele mesmo. Uma
pancada. Uma pintura. Mais um golaço. Comemorar o gol de Miralles, para os
gremistas, foi um sinônimo de comemorar a derrota de Ronaldinho.
O resto foi festa no Olímpico. Ronaldinho se acendeu no jogo, mas não
conseguiu levar o Flamengo à reação. No estádio onde o craque foi criado, a
torcida celebrou a vitória. Vitória contra Ronaldinho – não tente convencer um
gremista do contrário.
@leonardoimortal
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