Essa semana estava de carona no
carro de um colega de trabalho me dirigindo para um compromisso profissional. e
o rádio estava sintonizado num programa de esporte e o tema do assunto era
sobre as eleições no Grêmio. Até ai nada demais, mas lá pelas tantas me chamou
atenção um ex-presidente que participa do programa que foi questionado sobre a
possibilidade dele voltar a concorrer das eleições ou participar do CA na
próxima gestão. Ele não só negou
veementemente que possa existir tal possibilidade, como ainda afirmou que não
participa mais da vida política do clube, ainda que tenham circulado
informações sobre uma pretensa candidatura que gostaria de tê-lo como vice de
Futebol. Questionado sobre o porque de não querer voltar ao Grêmio como
dirigente ele alegou impossibilidade de compatibilizar sua vida profissional
com as exigências de tempo e dedicação que o cargo exige a frente da direção do
clube. Nesse momento surgiu no debate a necessidade dos clubes criarem o cargo de
presidente remunerado, o que este ex-dirigente declarou solenemente que era
CONTRA a remuneração do presidente do clube, ele achava que o presidente é um
cargo de entrega e dedicação por amor e paixão ao clube, e que se recusaria de
ser remunerado caso viesse a ser novamente dirigente, e o resto do debate, ou
pelo menos a parte que eu acompanhei, seguiu nessa ladainha.
Algumas reflexões sobre o
assunto, aliás eu já havia escrito sobre isso por aqui anteriormente, querer
ser candidato a Presidente do Grêmio tem duas premissas de imediato : 1) Ter
condições de ficar o período do mandato sem precisar trabalhar, isto é, ter uma
fonte de renda que sustente as suas necessidades de sobrevivência; 2) Ter
experiência política no cargo. Diante
destas duas barreiras de entrada, já de cara temos um enorme problema de
continuísmo na condução da gestão política, administrativa e de gestão do
clube, porque a enorme maioria dos pretendentes a ser um dia Presidente do
clube depende de sua atividade profissional para poder se dedicar inteiramente
ao clube, o que me leva uma conclusão : somente pessoas que não dependem de
seus empregos é que podem postular tal honraria. Quando eu escuto alguém dizer
que é contra a remuneração do Presidente do clube eu fico em dúvida sobre a sinceridade
dessa declaração, senão vejamos, ou estamos diante de alguém interessado que
não se amplie o leque de Gremistas qualificadas para disputarem o cargo , ou
então a argumentação se prende a aspectos que já se envelheceram diante do
crescimento do negócio futebol, e aproveitando para deixar registrado, jamais
acreditaria em qualquer outra motivação de quem defende a manutenção do modelo
atual (não remuneração do Presidente do clube). Fico pensando como uma pessoa
pode tomar decisões que estão em jogo, além dos interesses institucionais do
clube, verdadeiras fortunas financeiras ?? Como fazer isso sem se envolver de
corpo e alma no dia-a-dia do clube ? Aliás, como tomar decisões de tamanha
responsabilidade se não estiver profundamente envolvido com todas as áreas que
permeiam o clube ?
O futebol tem alguns detalhes
importantes que até hoje não se conseguiu resolver, por exemplo, vinte e dois
profissionais entram em campo para jogar com a mediação de um AMADOR !!! Sim,
os juízes que apitam as partidas são amadores, porque exercem outras
atividades, não vivem exclusivamente da profissão de juiz, pelo menos a quase
totalidade. Então assistimos profissionais que vivem e dependem de jogar
futebol, sendo supervisionados por amadores que nas horas vagas fazem um bico
para ganhar algum dinheirinho extra. E assim cada vez mais se observa uma queda
de qualidade nas arbitragens, ao ponto que cada vez mais os árbitros estão
errando, além do próprio envelhecimento do atual quadro de árbitros no Brasil.
Veja que estamos refletindo sobre a condução de um jogo, imagina ser Presidente
de um clube !!! O futebol se transformou num negócio muito sério e
profissional, e como tal deve (ou pelo menos deveria) ser conduzido de forma
profissional e orientado a resultados, e não movido pela paixão, porque onde
existe paixão não há espaço para a razão, e empresas são movidas a lucros
monetários e não monetários, e não a sentimentos de cada momento quando falamos
sobres GESTÃO. Outro ponto também que merece ser destacado se refere aos papéis
que cada cargo exerce na estrutura de poder de uma organização, como por
exemplo as estruturas políticas (conselhos de administração) e comando
operacional das empresas (Presidência Executiva), enquanto o primeiro responde
pelas relações institucionais da empresa, o segundo é responsável pela operação
e lucratividade da empresa. Mal comparando com as estruturas empresariais, na
minha singela opinião o Grêmio deve manter o cargo de Presidente do clube, mas
deve também referendar a contratação de um Presidente Operacional remunerado pelo clube, que ficará responsável
em fazer a gestão administrativa, financeira, mercadológica e operacional do
clube, enquanto o Presidente Institucional do clube ficará ocupado
exclusivamente com as questões relativas ao futebol e os demais assuntos de
ordem política e institucional do clube. O Presidente Operacional por sua vez, deve ser escolhido a partir de um processo de
seleção isento e não político, através da contratação de um headhunter
independente especializado em profissionais de alto padrão. Para isso acontecer creio que deve haver uma
verdadeira revolução cultural no eixo político do clube, buscando introduzir um
novo padrão de conceitos e padrões de gestão do clube, e o mais importante, com
pessoas realmente comprometidas com o crescimento e modernização do clube. Não
sou ingênuo de pensar que essas ideias sejam fáceis de ser implementadas, mas
também não acho que são impossíveis, depende muito de quanto cada um dos
envolvidos na questão, e mais ainda o que cada um pensa para o clube, se
abstendo de seus interesses pessoais.
Ver o nosso time vencer depende
de profissionalismo dentro e fora de campo, mas vê nosso clube se modernizar
depende exclusivamente do quanto queremos ter uma direção focada na responsabilidade
dos resultados.
FÁBIO IRIGOITE
Ex-Conselheiro,
sócio Gremistas deste 1993, comentarista no Programa 2 Toques
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